Canas OnLine

31 janeiro 2007

2006


Fotos de Rui Pina
Carnaval Canas de Senhorim 06

Se há momentos bonitos... Rossio 2006


29 janeiro 2007

A Rivalidade


Embora os contornos sejam de difícil exactidão, parece que a rivalidade carnavalesca entre os principais bairros de Canas de Senhorim, advém do costume antigo de as moças solteiras, por essa altura, se fazerem mostrar, integradas em marchas populares, pelas ruas de Canas. Organizadas por bairros, Paço e Rossio, lá iam em jeito de provocação mostrar-se energicamente ao outro bairro.
Não é de espantar que os moços do bairro oposto imbuídos do espírito favorável da época arriscassem alguns piropos ou até atrevimentos mais ousados. Ora, para que a dignidade das raparigas do seu bairro não fosse abalada, os rapazes acompanhavam-nas aquando da passagem pelo bairro opositor, para evitar abusos de maior.
Mas nestas coisas já se sabe! Uma provocação, muito galo em confronto, um copito a mais, um namoro mal resolvido, palavra puxa palavra e a escaramuça era quase inevitável. Curiosamente muitas dessas situações eram provocadas pelas raparigas que, por motivos de namoricos ou de rivalidades amorosas, se insinuavam quer a eles quer a elas, exorcizando no gesto afrontas que noutras circunstâncias seriam descabidas ou desaconselháveis.
Ainda hoje as mulheres mais velhas, com memória de tempos mais antigos, são as mais aguerridas no confronto e na incitação.
Está bem de ver que a honra das raparigas se media em função da bravura dos rapazes. Vai daí, e segundo alguns relatos que nos chegaram e que me parecem credíveis, a horda de rapazes munia-se de varapaus e a violência estalava assim se justificasse a afronta. Ou não!
Lá no fundo a rivalidade nasceu da eterna contenda humana entre amores e desamores, ciúme e despeito, acção e reacção, que associada ao espírito colectivo que o bairrismo incita, determinou a competição que ainda hoje podemos assistir.
Bem, hoje em dia já não temos bordoada mas desaconselho qualquer incauto a ir gritar Viva o Paço para o Rossio de Baixo. LOL.

28 janeiro 2007

Gente gira II - Carnaval de Canas 2006




2007

postado por Linda
ver mais "preparativos in Beijós XXI

1979

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Farpas & Tix

Agradecimento: Grupo de Teatro Pais Miranda

27 janeiro 2007

Fevereiro 2004

A Smell of Venice in Portugal 1
Canas Senhorim Portugal
Joaquim Fonseca, Portugal 2001-2007

26 janeiro 2007

Este texto funciona como uma resposta ao pedido da minha inimiga de estimação, “Achadiça”, que nos pede memórias para que fiquem registadas... Claro que podem sempre riscar ou acrescentar!...

Não muito longe vão os tempos, em que o Carnaval de Canas se parecia mais ao que é hoje a feira das velhas... Grupos de moços e moças, dos dois bairros, iam alternadamente ao outro bairro... A participação dos homens resumia-se a andarem ao lado do corço com varapaus não permitindo que se misturassem as “raças” ... Claro está que, andarem pessoas nas ruas, em tempos de Carnaval, com paus na mão, confrontando o outro bairro, não podia dar bons resultados... Quase sempre saía “molho”!... Neste particular, era o Rossio que perdia!...
Conta-se que certa vez os guardadores de rebanhos do Paço conseguiram empurrar a marcha do rossio para dentro dos “claustros” (antiga vacaria junto à Igreja), transformando o espaço num ring de box...
Claro que haviam pedradas, murros, urina e fezes, os tais paus, farinha...


E quem não se lembra das “majoretes”?... Haverá muito bom homem, casado e pai de filhos, que não esquecerá... É que elas não eram só enfarinhadas...

As mascaradas, pessoas que correm pelo breu da noite (e não só), completamente irreconhecíveis, assustando os mais desprevenidos... Mais uma tradição de Canas!...

E as Comadres e os Compadres?... Às gentes solteiras eram sorteados pares para dançarem nos bailes à noite... O Rossio reeditou essa tradição em 2006... É verdade que o sorteio, bem, o sorteio... Mas que sorteio... Ehhhhh!...

Temos também o episódio, contado pelo António João (chamado o Judeu – isso também tem uma história, fica para mais tarde) de quando um novo cabo veio para o posto da GNR e ordenou a proibição das bombas de Carnaval (o tempo deu-lhe razão). António João e muitos outros combinaram que todos os foliões canenses lançassem à mesma hora, numa noite, as bombas junto ao posto... Aquilo parece ter sido algo de levantar os mortos das campas, os Cabo pediu para sair de Canas!...

memória 2004 |II|

A Smell of Venice in Portugal 3
Carnaval Canas de Senhorim Portugal
Canon EOS 300D Digital Rebel ,Tamron AF 28-200mm f/3.8-5.6 XR
1/320s f/8.0 at 200.0mm iso400 full exif
Copyright © Joaquim Fonseca, Portugal 2001-2007

25 janeiro 2007

Quem não se lembra?

A grandeza do nosso carnaval!

Rossio 2002

Paço 2002



memória 2004

Carnaval de Canas de Senhorim
a smell of Venice
foto de Joaquim Fonseca

Gente gira I - Carnaval 2006









Carnaval de Canas de Senhorim 2006

Colaboradores "carnaval"

Os problemas causados pelo "novo blogger" estão resolvidos.
Novos Colaboradores _ devem enviar um e-mail para

Foto de Farpas Carnaval de Canas de Senhorim 2006

23 janeiro 2007

Um "Paço" sempre à frente

Paço - 2006



22 janeiro 2007

A Verdade:

A espiga de milho

Aqui está a prova provada da qualidade do milho do Paço que a Achadiça anda para aí a apregoar. A marota está aqui ao meu lado e já me boicotou a postagem umas quantas vezes. Devem ser influências das sabotagens que eles anualmente nos fazem ao som. Está quieta... vai mas é trocar quadras com o Cingab.

18, 19 e 20 de Fevereiro

Há 55 anos ...

Carnaval de Canas de Senhorim
Domingo Gordo _ Rossio _ 1952

Marcha do Rossio

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António João Pais Miranda

Farpas & Tix
Agradecimento: Grupo de Teatro Pais Miranda

21 janeiro 2007

Paço - Rossio em Quadras

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António João Pais Miranda

Farpas & Tix
agradecimentos: Grupo de Teatro Pais Miranda


20 janeiro 2007

A minha parcialidade! :D

O Rossio é o melhor bairro!...
Quando não se tem responsabilidades na organização, podemos estar, de alma e coração, de um dos lados da barricada, e lançar umas atoardas...
Mas, neste caso, a realidade dos factos é só uma: o Rossio bate sempre o Paço... Uns anos aos pontos, outros por KO!...
Os marchantes são melhores, mais bem vestidos, cores mais bem escolhidas, letras e musicas de maior qualidade... Nos carros alegóricos vai mantendo a tradição da critica social e política e vai resistindo a tentação de fazer monos!

É no Rossio onde tudo acontece (ou vai acontecendo), é no Rossio que estão as pessoas que fazem evoluir o Carnaval, mentes mais abertas e livres... É o Rossio que luta pela liberdade e tradições... É sempre o Rossio que se sujeita aos desvarios do Paço em nome do Entrudo de Canas... É no Rossio onde os desfiles atingem o clímax... Onde o adversário reconhece ser a verdadeira essência de meses de trabalho e noites perdidas...

O Rossio não boicota, não corta a energia aos carros da musica do Paço, não põe em risco a vida de pessoas e bens... Não atira para cima das pessoas tractores e reboques, não anda com colunas de som de toneladas a ziguezaguear sobre as pessoas , não precisa de 6 metros para passar com carros de 3...

Ahh... Como é bom poder ser parcial!...

19 janeiro 2007

Despique 2002



Fotos da grande vitória do Rossio em 2002
por Farpas

Rossio Adorado

A minha amiga Achadiça pretende atingir o Rossio através dos supostos desaires sexuais de duas supostas amigas que supostamente aderiram ao Paço por via de uma qualquer bebedeira. Compreendo a parte da adesão. É preciso estar muita bêbeda e mentalmente incapacitada para aderir àquele cortejo.
Quanto ao regabofe pretendido e muito bem escusado pelos meus companheiros de bairro, só vos posso dizer que, dadas as características muito peculiares das ditas forasteiras, fizeram eles muito bem. A malta do Rossio, nesta matéria não vai a saldos de última estação nem abdica de confortar convenientemente as frescas e viçosas meninas do Rossio. E eu sei do que estou a falar.
Elas que se amanhem lá com a decrepitude anciã do bairro onde se embebedaram.
Por agora fico por aqui, no meu Rossio adorado.

Cristalinda

Da minha Parteleira dos tabus!

Pisão = pedra embrulhada num pano. Uma brincadeira de Carnaval. Tem um esquema para ser atada e controlada de longe. Os brincalhões escondem-se e simulam o bater COM MUITA FORÇA na porta da vítima (por vezes deixa grandes mossas nas portas....). Escolhem-se altas horas da noite para esta brincadeira, que hoje em dia ainda tem lugar, no meio de muita risada, pois a vítima é escolhida pelo seu mau feitio. A vítima, ou vocifera e vai buscar a caçadeira, ou tem um belo "fair play" e convida os foliões para beber um copo...

No final de cada semana de aulas, habitualmente sexta-feira, Daniel escutava sempre a mesma frase dita por João, seu colega de carteira:
- Amanhã vou para "a terra"!
E "a terra" de João era longe, Canas, Canas de Senhorim, de que ele falava muitas vezes, até nas composições que a professora pedia na sala de aula. Assim, chegado o fim de semana, lá partia João com os pais rumo ao norte…
Daniel pensava então:
- E a minha terra? Se nasci aqui em Lisboa ...então sou daqui.
A cada segunda-feira, no regresso de João, Daniel sorvia com avidez as narrativas e descrições do seu amigo, passadas lá em Canas: Falava-lhe do Carnaval com os seus divertidos pisões, terminando a festa em despique bravo nas "quatro esquinas". Da sua avó sábia, mestre na arte do queijo, que sempre arranjava um momento para cozer magníficos bolos que ele comia regalado nas tardes chuvosas. Ou daquela história divertida da porca preta que resolveu fugir mesmo no dia da "matança" e, embora perseguida por uma família inteira através dos quintais, ganhara a sua liberdade. Talvez viva, ainda, lá para os lados do Mondego com um simpático javali. E aquela serra, todinha, vestida de branco…
Ainda por cima, Canas tinha um Rossio, algo muito familiar para Daniel, menino Lisboeta.
Daniel ficava a pensar em Lisboa, com as suas praças e avenidas apressadas, com uma expressão triste de quem não pertence a lugar nenhum.
Havia aquela coisa estranha, de que todos os Lisboetas eram sempre de outro lugar.
E Canas? Uma ideia começou a germinar na cabeça de Daniel:
- Quando for grande, quero é ir a Canas!
Até sonhou com aquela Canas imaginária.
Um dia, chegava o pai vindo do trabalho, Daniel perguntou-lhe:
- Pai, porque é que nós não "vamos à terra"?
- Porque a nossa terra é aqui. Respondeu o pai.
- Mas esta cidade parece não me pertencer...
- Vou-te contar um segredo… A nossa terra é onde está o nosso coração e, o nosso coração, sabe sempre o seu lugar.

Uma coisa Daniel não sabe, mas eu sei, como contador desta história, e vocês leitores também, porque a estão a ler: Um dia, Daniel irá finalmente a Canas. Lá conhecerá a irmã de João, Inês, encontrando o amor naquela bela rapariga nascida ali mesmo na Póvoa. O seu coração fará uma escolha, descobrindo finalmente a terra porque tanto ansiara.

Pois, como seu pai tinha dito:
- O Coração conhece bem o seu lugar.


Gaivina no blogue Voz em Fuga

lembrete

Em sequência no excelente texto do Portugasuave apraz-me acrescentar...

O inicio do Carnaval em Asnelas deve-se também e principalmente ao facto de, numa altura conturbada nos bairros em Canas, onde, inclusivé, o Paço não saiu à rua, preferindo fazer uma sardinhada, canenses resolveram ajudar ao inicio do entrudo asnelense... Contribuiriam ainda, de uma forma decisiva, canenses migrados para a capital de município!...
Há quase duas décadas a minha professora de Biologia (em nelas) tinha uma opinião que passou a ser a minha... Por uma questão de lógica, até financeira, Canas Senhorim organizaria o Carnaval e Asnelas os Santos Populares visto serem, respectivamente, as tradições mais enraizadas de cada povo...

Sejamos claros... Em asnelas, o Carnaval sai (quando o tempo deixa) realizado e produzido pela câmara em 90%...
Aluguer de fatiotas, publicidade, logística, construção dos carros, contratação de marchantes (até de Canas), dinheiro ilimitado (Os fornecedores das associações iam directamente à Câmara receber), mão de obra camarária, utilização de veículos... E depois de tudo, ainda mais dinheiro de subsídio...
Em asnelas tiveram a lata de fazer um pseudo-congresso sobre o Carnaval português, com a presença de muitas Vilas do país com Carnaval enraízado... Esqueceram-se de Canas de Senhorim... Coisas de Zé Colmeia!...

O Carnaval de Canas precisa de muitas coisas, principalmente organização... Experimentar a mudança é sempre de saudar, este ano parece que vai haver algumas tentativas... Podendo desde já digo, não concordar, louvo os que tentam a mudança para um Carnaval melhor!... Força aí a todos!...

Verdade nua e crua!

Parece-me óbvio que é o Paço o bairro mais esforçado e trabalhador... Mas isso nunca pôs em causa uma realidade... O Rossio é o Melhor!...

Resposta

Achadiça, vamos lá ver se percebi:
"O vinho do Dão, que as apanhou desprevenidas e as deixou demasiado atrevidas, fê-las pasar por autênticas moças do Paço..."
Como é que é? Partimos do pressuposto que a definição de autêntica moça do paço é: Atrevida e com sangue a mais no álcool????

"e, não fosse a atenta intervenção de um amigo meu do Paço, a pobre vinha encharcadinha para casa."
Agora pergunto eu: Onde estavam os heterossexuais do paço? Nenhum agradou às tuas amigas??? E a intervenção desse teu amigo, foi para safar a tua amiga ou para ficar com a presa mesmo babando e regurgitando cerveja???

Agora que já me assumi como Rossiense convicto, pronto a rebater qualquer coisa que, com ou sem razão,(é isto o bairrismo) apontem ao meu bairro dou assim por iniciada a minha parca e ligeira prestação neste blogue cheio de boas intenções...como o inferno.

Beijos e abraços

Má Lingua

18 janeiro 2007

Nem entrudo nem folguedo


Cá estamos para participar neste ajuntamento de machos foliões. Aproveito para esclarecer que a nossa presença foi bastante influenciada por esse motivo – a exclusividade de machos, mesmo que alguns não honrem as obrigações.
Contrariando tradições antigas, verificamos que este berloque junta na mesma “associação” pacenses e rossienses, criando a ténue ilusão de que toda a gente vai comungar pacificamente desta união. Pois está redondamente enganado o seu mentor e todos aqueles que julgam possível qualquer harmonia entre as convidadas Achadiça e Riça, assumidamente do Paço, a Cristalinda, do Rossio, e os demais convivas, seus opositores bairrenses.
Desde já, abdico da minha condição de conciliadora e de presidente do Mulherio, para fazer valer a minha veia pacense. Como tal, que fique esclarecido que a partir de agora, neste berloque, falarei somente em meu nome e assumirei pessoalmente todas as responsabilidade sobre os vitupérios que já me ocorrem.
Duma vez por todas espero que o Rossio invista algum dinheiro na formação de carpinteiros e soldadores para que se consiga compreender que raio de bicharada é que eles montam nos carros alegóricos. O problema é que nem montar os carros nem montar nada... são incompetentes em ambas as montadorias.
No ano passado vieram cá duas amigas minhas, disponíveis e cheias de expectativas quanto à qualidade do milho. Uma solteirona pouco convicta, outra divorciada em fase avançada de desespero, ambas acalentando igual esperança de encontrar companhia agradável e diversão carnavalesca. Por solidariedade para comigo ou por genuína simpatia pelo bairro, o certo é que de imediato se identificaram com a marcha do Paço e, folionas alinharam no cortejo brincando e rindo como toda a gente. O vinho do Dão, que as apanhou desprevenidas e as deixou demasiado atrevidas, fê-las pasar por autênticas moças do Paço tal era a convicção com que gritavam afinadas “eu sou do Paço...”.
À noite, a rivalidade vivida à tarde é substituída pela euforia subversiva dos copos e pela descompostura do gesto. As minhas amigas estavam maravilhadas com a transmutação e pela animação geral. O machos galifões de imediato farejaram a presença das forasteiras e cirandavam de todos os lados a manifestar seduções. Entusiasmada com os avanços de um franganote do Rossio, uma delas já andava desesperada a saber de uma pensão em Canas e acabou por desaparecer junto com o franganote. Pensava ela que a noite acabaria em grande, mas o certo é que o franganote ao aproximarem-se as vias de facto pôs-se a andar alegando horas de entrar em casa. A outra mereceu o embevecimento de um galo a cair de velho, também do Rossio, que passou a noite a babar cerveja para cima dela e, não fosse a atenta intervenção de um amigo meu do Paço, a pobre vinha encharcadinha para casa.
Foi com esta imagem que as forasteiras partiram no que se refere à qualidade do milho. Lamentável. Com isto mais se reforçam as minhas convicções bairristas. Portanto, minhas amigas forasteiras se querem espevitar as penas fujam dos galos do Rossio pois de lá nem entrudo nem folguedo.

Rapariga, se és forasteira
E queres milho na capoeira
Não procures no Rossio
Pois lá o cortejo é coxo
E os galos sem pavio

Vem mas é ó Paço
Se queres encher o regaço

Um gajo do Rossio

Rossio 06




Arte do Rossio no Carnaval de 2006

A propósito...


A tentativa de ensombrar o nosso Carnaval, levada a cabo pela Câmara Municipal de Nelas, desde que em 1977 se prestou a incentivar e apoiar uma cópia do Carnaval de Canas de Senhorim, é sobejamente conhecida dos canenses e já não nos suscita qualquer comentário, senão o de registar as mentes perturbadas dos fomentadores de tal recriação. Porém, julgo importante recordar e esclarecer as circunstâncias que levaram à criação da macaquice do carnaval de Nelas.
A ancestralidade do carnaval de Canas de Senhorim perde-se no tempo e na memória. Segundo reza a história, há 300 anos que se vem realizando regularmente, constituindo, pela sua tradição e genuinidade, caso ímpar no panorama nacional.
Das suas características peculiares, mantidas até aos dias de hoje, realço a sua originalidade, assente na saudável rivalidade entre os principais bairros da terra (Paço e Rossio) e a diversidade de costumes que animam, não só os quatro dias de folia, mas também os que os antecedem. O facto de nunca ter cedido a influências brasileiras confere-lhe um cunho tipicamente popular, bem patente no ritmo das marchas dos corsos e nas Bandas de Música que as interpretam.

Carnaval de Canas de Senhorim, Bairro do Paço, 1953

Foram estas particularidades, aliadas à dedicação com que as gentes de Canas se entregam à sua festa de eleição, que colocaram Canas de Senhorim no roteiro de milhares de visitantes e foliões que anualmente nos procuram para desfrutar e participar no nosso carnaval. Uma festa do povo para o povo, gratuita e espontânea, como refere António João Pais Miranda na publicação Canas de Senhorim – História e Património.
Ora, perante tal evidência, o mínimo que seria de esperar dos responsáveis camarários (Câmara Municipal de Nelas) era que apoiassem e difundissem este evento, assumindo-o como património cultural da região, elegendo-o como ex-líbris do calendário festivo do município e promovendo-o eficazmente.
Mas não. Muito pelo contrário. O que a Câmara Municipal de Nelas fez no ido ano de 1977, foi incentivar a recriação na sede do município (Nelas) de um carnaval artificial, tirado a papel químico do nosso. Simularam uma rivalidade ficcionada entre dois bairros postiços e saíram ao embuste, sem pejo nem dignidade.
Ocorre-me aqui a leviandade de imaginar o que seria se a Câmara do Carregal, inspirada pelo plágio da sua congénere nelense, importasse a vetusta e tradicional Dança dos Cus de Cabanas de Viriato para o Carregal do Sal. Impossível! Pertencesse Cabanas ao concelho de Nelas e asseguro-vos que o “bate cu” há já muito tempo seria parte do folclore “genuinamente nelense”.

Carnaval de Canas de Senhorim, 1953

Este fenómeno de decalque reflecte a inconsistência histórica e cultural da vila de Nelas. Constituída sede do concelho e criada administrativamente do nada, sem história nem memória, por força de Decreto em 9/12/1852, reuniu no seu seio as vilas de Canas de Senhorim, Senhorim e Santar. Estas vilas possuíam uma identidade própria que assentava no seu vasto património histórico e era consolidada pelos costumes e tradições seculares que os seus povos legaram à modernidade. Essa herança chegou aos nossos tempos através da arquitectura, da gastronomia, das lendas e crenças e de outros rituais, entre os quais o carnaval de Canas. O que aconteceu com Nelas é que não houve legado nem herança que sustentasse o estatuto entretanto adquirido. No que refere ao carnaval a tradição nelense resumia-se ao bailes de carnaval e às moribundas “Contradanças” que, convenientemente, são referidas como origem(?) do actual carnaval de Nelas (ver Boletim Informativo n.º 7 da Câmara Municipal de Nelas, de Fevereiro de 2005).
Na ausência de tradições assinaláveis e a coberto de líderes despeitados e sem escrúpulos copiou-se o que havia para copiar e aviltou-se assim o património alheio na confecção de um carnaval por receita. Roubo premeditado e plágio consumado.
Mas não ficou por aqui o desplante. As verbas atribuídas ao carnaval de Canas, quando atribuídas, representam um ultraje quando comparadas com as do carnaval de Nelas, seguindo, aliás, a política orçamental habitualmente dedicada a Canas. A disparidade de verbas concedidas em 2006 para aquele efeito traduziu-se em 20.000€ para Canas e 50.000€ para Nelas. Mais do dobro.

Carnaval de Canas de Senhorim na actualidade, 2006

Em 2007 cumprir-se-ão 30 anos desde que a Câmara de Nelas humilha ostensivamente e a expensas nossas, enquanto munícipes, o esforço das associações que organizam o carnaval de Canas. Creio que isso deixou de nos fazer mossa porque não há dinheiro que compre o entusiasmo, a vibração, a alma e a devoção com que os canenses se entregam ao seu carnaval. Porém, não posso deixar passar em claro a indignação que nos assiste, quando confrontados com a falta de equidade no apoio financeiro e na promoção do nosso carnaval por parte da edilidade.
Admito que a situação melhorou com a tomada de posse da actual presidente. No ano passado a câmara, para além da verba concedida, pagou os cartazes promocionais, o papel para as flores, os autocarros para as bandas, as licenças e direitos de autor, as vedações para as ruas e a publicidade nos jornais e rádios. Disponibilizou ferro e outros materiais e ofereceu os serviços de soldadores e carpinteiros da câmara para fazer os carros alegóricos (as associações de Canas recusaram este último). Tudo isto à semelhança do que proporcionou ao carnaval de Nelas e sustentado pela óptima relação com o Dr. Borges da Silva que sempre esteve disponível para ajudar. Contudo, a disparidade de verbas atribuídas a ambas as vilas demonstra ainda uma atitude discriminatória que a presidente tem o dever moral e a obrigação política de corrigir.
Já não aspiramos à tal “discriminação positiva” que serviu de mote à sua campanha eleitoral e que se gorou no imediato, aquando da aprovação do orçamento. Desejamos sim, ser tratados com a igualdade de meios, a consideração e o respeito que nos são devidos enquanto munícipes, cidadãos e herdeiros de uma tradição que representa uma das expressões mais autênticas do carnaval popular português.
Viva o Paço. Viva o Rossio. Viva o Carnaval de Canas de Senhorim.

Créditos:
Blog Município Cannas de Senhorym
Cingab