A tentativa de ensombrar o nosso Carnaval, levada a cabo pela Câmara Municipal de Nelas, desde que em 1977 se prestou a incentivar e apoiar uma cópia do Carnaval de Canas de Senhorim, é sobejamente conhecida dos canenses e já não nos suscita qualquer comentário, senão o de registar as mentes perturbadas dos fomentadores de tal recriação. Porém, julgo importante recordar e esclarecer as circunstâncias que levaram à criação da macaquice do carnaval de Nelas.
A ancestralidade do carnaval de Canas de Senhorim perde-se no tempo e na memória. Segundo reza a história, há 300 anos que se vem realizando regularmente, constituindo, pela sua tradição e genuinidade, caso ímpar no panorama nacional.
Das suas características peculiares, mantidas até aos dias de hoje, realço a sua originalidade, assente na saudável rivalidade entre os principais bairros da terra (Paço e Rossio) e a diversidade de costumes que animam, não só os quatro dias de folia, mas também os que os antecedem. O facto de nunca ter cedido a influências brasileiras confere-lhe um cunho tipicamente popular, bem patente no ritmo das marchas dos corsos e nas Bandas de Música que as interpretam.
Carnaval de Canas de Senhorim, Bairro do Paço, 1953
Foram estas particularidades, aliadas à dedicação com que as gentes de Canas se entregam à sua festa de eleição, que colocaram Canas de Senhorim no roteiro de milhares de visitantes e foliões que anualmente nos procuram para desfrutar e participar no nosso carnaval. Uma festa do povo para o povo, gratuita e espontânea, como refere António João Pais Miranda na publicação Canas de Senhorim – História e Património.
Ora, perante tal evidência, o mínimo que seria de esperar dos responsáveis camarários (Câmara Municipal de Nelas) era que apoiassem e difundissem este evento, assumindo-o como património cultural da região, elegendo-o como ex-líbris do calendário festivo do município e promovendo-o eficazmente.
Mas não. Muito pelo contrário. O que a Câmara Municipal de Nelas fez no ido ano de 1977, foi incentivar a recriação na sede do município (Nelas) de um carnaval artificial, tirado a papel químico do nosso. Simularam uma rivalidade ficcionada entre dois bairros postiços e saíram ao embuste, sem pejo nem dignidade.
Ocorre-me aqui a leviandade de imaginar o que seria se a Câmara do Carregal, inspirada pelo plágio da sua congénere nelense, importasse a vetusta e tradicional Dança dos Cus de Cabanas de Viriato para o Carregal do Sal. Impossível! Pertencesse Cabanas ao concelho de Nelas e asseguro-vos que o “bate cu” há já muito tempo seria parte do folclore “genuinamente nelense”.
Ora, perante tal evidência, o mínimo que seria de esperar dos responsáveis camarários (Câmara Municipal de Nelas) era que apoiassem e difundissem este evento, assumindo-o como património cultural da região, elegendo-o como ex-líbris do calendário festivo do município e promovendo-o eficazmente.
Mas não. Muito pelo contrário. O que a Câmara Municipal de Nelas fez no ido ano de 1977, foi incentivar a recriação na sede do município (Nelas) de um carnaval artificial, tirado a papel químico do nosso. Simularam uma rivalidade ficcionada entre dois bairros postiços e saíram ao embuste, sem pejo nem dignidade.
Ocorre-me aqui a leviandade de imaginar o que seria se a Câmara do Carregal, inspirada pelo plágio da sua congénere nelense, importasse a vetusta e tradicional Dança dos Cus de Cabanas de Viriato para o Carregal do Sal. Impossível! Pertencesse Cabanas ao concelho de Nelas e asseguro-vos que o “bate cu” há já muito tempo seria parte do folclore “genuinamente nelense”.
Carnaval de Canas de Senhorim, 1953
Este fenómeno de decalque reflecte a inconsistência histórica e cultural da vila de Nelas. Constituída sede do concelho e criada administrativamente do nada, sem história nem memória, por força de Decreto em 9/12/1852, reuniu no seu seio as vilas de Canas de Senhorim, Senhorim e Santar. Estas vilas possuíam uma identidade própria que assentava no seu vasto património histórico e era consolidada pelos costumes e tradições seculares que os seus povos legaram à modernidade. Essa herança chegou aos nossos tempos através da arquitectura, da gastronomia, das lendas e crenças e de outros rituais, entre os quais o carnaval de Canas. O que aconteceu com Nelas é que não houve legado nem herança que sustentasse o estatuto entretanto adquirido. No que refere ao carnaval a tradição nelense resumia-se ao bailes de carnaval e às moribundas “Contradanças” que, convenientemente, são referidas como origem(?) do actual carnaval de Nelas (ver Boletim Informativo n.º 7 da Câmara Municipal de Nelas, de Fevereiro de 2005).
Na ausência de tradições assinaláveis e a coberto de líderes despeitados e sem escrúpulos copiou-se o que havia para copiar e aviltou-se assim o património alheio na confecção de um carnaval por receita. Roubo premeditado e plágio consumado.
Mas não ficou por aqui o desplante. As verbas atribuídas ao carnaval de Canas, quando atribuídas, representam um ultraje quando comparadas com as do carnaval de Nelas, seguindo, aliás, a política orçamental habitualmente dedicada a Canas. A disparidade de verbas concedidas em 2006 para aquele efeito traduziu-se em 20.000€ para Canas e 50.000€ para Nelas. Mais do dobro.
Na ausência de tradições assinaláveis e a coberto de líderes despeitados e sem escrúpulos copiou-se o que havia para copiar e aviltou-se assim o património alheio na confecção de um carnaval por receita. Roubo premeditado e plágio consumado.
Mas não ficou por aqui o desplante. As verbas atribuídas ao carnaval de Canas, quando atribuídas, representam um ultraje quando comparadas com as do carnaval de Nelas, seguindo, aliás, a política orçamental habitualmente dedicada a Canas. A disparidade de verbas concedidas em 2006 para aquele efeito traduziu-se em 20.000€ para Canas e 50.000€ para Nelas. Mais do dobro.
Carnaval de Canas de Senhorim na actualidade, 2006
Em 2007 cumprir-se-ão 30 anos desde que a Câmara de Nelas humilha ostensivamente e a expensas nossas, enquanto munícipes, o esforço das associações que organizam o carnaval de Canas. Creio que isso deixou de nos fazer mossa porque não há dinheiro que compre o entusiasmo, a vibração, a alma e a devoção com que os canenses se entregam ao seu carnaval. Porém, não posso deixar passar em claro a indignação que nos assiste, quando confrontados com a falta de equidade no apoio financeiro e na promoção do nosso carnaval por parte da edilidade.
Admito que a situação melhorou com a tomada de posse da actual presidente. No ano passado a câmara, para além da verba concedida, pagou os cartazes promocionais, o papel para as flores, os autocarros para as bandas, as licenças e direitos de autor, as vedações para as ruas e a publicidade nos jornais e rádios. Disponibilizou ferro e outros materiais e ofereceu os serviços de soldadores e carpinteiros da câmara para fazer os carros alegóricos (as associações de Canas recusaram este último). Tudo isto à semelhança do que proporcionou ao carnaval de Nelas e sustentado pela óptima relação com o Dr. Borges da Silva que sempre esteve disponível para ajudar. Contudo, a disparidade de verbas atribuídas a ambas as vilas demonstra ainda uma atitude discriminatória que a presidente tem o dever moral e a obrigação política de corrigir.
Já não aspiramos à tal “discriminação positiva” que serviu de mote à sua campanha eleitoral e que se gorou no imediato, aquando da aprovação do orçamento. Desejamos sim, ser tratados com a igualdade de meios, a consideração e o respeito que nos são devidos enquanto munícipes, cidadãos e herdeiros de uma tradição que representa uma das expressões mais autênticas do carnaval popular português.
Viva o Paço. Viva o Rossio. Viva o Carnaval de Canas de Senhorim.
Créditos:
Blog Município Cannas de Senhorym
Cingab
Admito que a situação melhorou com a tomada de posse da actual presidente. No ano passado a câmara, para além da verba concedida, pagou os cartazes promocionais, o papel para as flores, os autocarros para as bandas, as licenças e direitos de autor, as vedações para as ruas e a publicidade nos jornais e rádios. Disponibilizou ferro e outros materiais e ofereceu os serviços de soldadores e carpinteiros da câmara para fazer os carros alegóricos (as associações de Canas recusaram este último). Tudo isto à semelhança do que proporcionou ao carnaval de Nelas e sustentado pela óptima relação com o Dr. Borges da Silva que sempre esteve disponível para ajudar. Contudo, a disparidade de verbas atribuídas a ambas as vilas demonstra ainda uma atitude discriminatória que a presidente tem o dever moral e a obrigação política de corrigir.
Já não aspiramos à tal “discriminação positiva” que serviu de mote à sua campanha eleitoral e que se gorou no imediato, aquando da aprovação do orçamento. Desejamos sim, ser tratados com a igualdade de meios, a consideração e o respeito que nos são devidos enquanto munícipes, cidadãos e herdeiros de uma tradição que representa uma das expressões mais autênticas do carnaval popular português.
Viva o Paço. Viva o Rossio. Viva o Carnaval de Canas de Senhorim.
Créditos:
Blog Município Cannas de Senhorym
Cingab
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